sábado, 9 de maio de 2009

DATAS DO INTERCLASSE 2009

SERÃO REALIZADOS NOS DIAS 04 - 05 - 06 DE JUNHO

JOGOS INTERNOSJOGOS INTERNOS


JOGOS INTERNOS

Lino Castellani

“... Uma olhadela para a folhinha pendurada na parede foi o bastante para que aquela sensação de ‘friozinho’ na barriga se manifestasse. A tensão era grande. Durante meses, todas as atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física giraram em torno dos preparativos para a competição que agora se avizinhava.

Como que num piscar d’olhos, vieram à cabeça de Marcos cenas daqueles dias. Logo cedo, o correr na busca de um melhor condicionamento físico. Depois, e isso se repetiu por intermináveis dias, horas a fio, o trabalho com bola, na busca do aprimoramento técnico. Interessante, refletia ele, como o ‘jogar bola’, de que ele tanto gostava, havia se tornado ao longo daqueles dias, algo, maçante, chato mesmo. O prazer de brincar com a bola, acariciá-la com os pés, cabeça, peito, havia cedido espaço à repetição exaustiva, mecânica, de ‘chutes a gol’ na busca de um rendimento esportivo, de uma melhor ‘performance’ que o fazia sentir-se como uma máquina, sem emoções, robotizando seus movimentos, estereotipando-se vinculando-os aos padrões ‘normais’, cerceando sua capacidade de movimentar-se livre e criativamente.

Algo, porém, o incomodava. Não sabia bem o quê. Apenas sentia ser alguma coisa relacionada com a tristeza presente no olhar de Carlos, ansioso por jogar mas que, por não o saber, não havia encontrado lugar na equipe e, assim como a maioria, buscava conformar-se em ser mero espectador.

Mais ainda não era tudo. Incomodava-o também a sensação de participar de uma competição promovida na e pela sua escola, sem conhecer sequer os procedimentos adotados em sua organização. Era como se o vissem como incapaz de organizar alguma coisa.

- Por que, pensava ele, nos nossos jogos, não pude me envolver, em nenhum momento, em seus preparativos, apenas cabendo-me o papel de... treinar, treinar, treinar, como que se todo o resto não me dissesse respeito? Ah! Que bom seria se...

E assim pensando, adormeceu... e sonhou... Sonhou que todos na escola estavam não só se preparando para os jogos, mas também – e com que alegria – preparando os jogos. Para começar, na primeira reunião convocada por ele mesmo para debaterem o assunto, tinham decidido que naqueles jogos, todos os alunos jogariam. Trataram, depois, de encontrar uma maneira de concretizar tal intenção, de forma a preservar o prazer de jogar tanto para aquele que o sabia fazer bem, quanto para aquele outro que o fazia não tão bem ou mesmo mal.

- Ora, mas eu só sou bom em futebol. Não sei jogar voleibol muito bem e no basquete então, mal consigo ‘caminhar’ na quadra, falou Pedro, o ‘Pedrinho’, questionando a viabilidade de concretização da decisão.

- Pois então, disse Roberto, o ‘Betinho’, você ensina futebol para quem tiver dificuldade em praticá-lo e por sua vez outros ensinarão a jogar vôlei e basquete! Afinal, concluiu ele, é de interesse da turma que todos se saiam bem, pois será o esforço de todos que garantirá o sucesso de nossa turma, não é pessoal?

E assim ficou combinado. E após essa definição, fazia-se necessário encontrar um sistema de competição que melhor se ajustasse à situação existente: instalações e materiais esportivos, dias suficientes para a competição, número de equipes participantes...

- Puxa! Exclamou Marcos. Quanta coisa para resolver!

Mas o engraçado era que, apesar de saber ter pela frente muito trabalho, sentia-se bem disposto. Aqueles eram realmente os seus jogos! Os jogos de todos da escola! Sim, porque era evidente que a presença dos professores também era necessária, pois havia muitos conhecimentos de ordem técnica que eles desconheciam. Sistemas de competição, por exemplo. Mas se era verdade que não os conheciam, também o era serem capazes de passarem a conhecê-los.

- Incrível! Como é gratificante saber-se capaz, pensou Marcos.

E tinha mais... De repente era-lhe clara a possibilidade de redefinirem as regras do jogo. Elas não eram ‘para sempre’, pô! Eles poderiam elaborar outras que mais se ajustassem àquela competição... Por que não?

E ainda mais... Tinham que se decidir pela sistemática de arbitragem dos jogos e... ora, mas quem diria que isso pudesse ser possível? Até checarem a hipótese de não terem juízes!

- Quem estivesse jogando assumiria o compromisso de respeitar as regras do jogo que, por sinal, ajudariam a elaborar, falou Carlos, aquele mesmo que, lá no início, estava triste por ter que se contentar em assistir aos jogos...

- Puxa vida! Gritou Pedro, não conseguindo conter seu entusiasmo. Nunca poderia imaginar que para organizar jogos em nossa escola era preciso fazer tanta coisa!

- Mas nós vamos fale-lo, não é pessoal? Perguntou afirmativamente Marcos.

E foi assim, maravilhado com aquela constatação, que despertou de seu sono e de seu sonho...

Os jogos daquele ano correram conforme o tradicionalmente previsto. Por isso, ninguém conseguia entender aquele sorriso que Marcos trazia em seus lábios, dando a seu rosto uma feição de felicidade para todos injustificável. É que somente ele sabia que aqueles tinham sido os últimos jogos de sua escola realizados daquela maneira.”